Já virou chavão afirmar que estamos passando por uma situação sem precedentes. Pela primeira vez na história da nossa geração não sabemos ao certo como vai ser o dia de amanhã. Como será o mundo pós–quarentena? Como iremos nos adaptar a essa nova realidade? O distanciamento social vai ser necessário até quando? Quantos negócios irão sucumbir? O efeito social e econômico da quarentena será ainda pior do que o vírus em si? Muitas perguntas que, apesar de muita especulação, na realidade não conseguimos responder de maneira objetiva, pois experiências passadas já não nos servem para dar indicações para o caminho adiante.
Entretanto, mesmo com a crise inédita existem negócios que estão prosperando. Até agora, esses negócios parecem ser aqueles que, até antes da situação atual, já ofereciam soluções a problemas reais da população como um todo ou tinham uma proposta de valor que trazia claramente mais conveniência e facilidade para os seus clientes. No nosso portfólio de investimentos temos ambos os casos.
No primeiro grupo está a Magnamed, empresa de ventiladores pulmonares, que sempre se preocupou em melhor equipar as UTIs do País para salvar vidas e que, agora, se tornou chave para solucionar a questão da sobrecarga dos hospitais brasileiros. A empresa está com demanda dez vezes maior que sua produção anual histórica, considerando apenas os pedidos no Brasil.
Na segunda categoria se encaixa a Sanar, empresa de reforço escolar para servidores da área da saúde, que oferece cursos online para médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, entre outras especialidades. Em seu portfólio de produtos já havia conteúdo básico de alta qualidade e a preço acessível para a formação desses profissionais. Com a restrição às aulas presenciais, a demanda pelos seus serviços explodiu e a empresa está operando em outro nível de volume.
Negócios com essas duas características devem ganhar relevância crescente no mundo pós-crise. Difícil imaginar um cenário contrário a essa visão. Empreendedores terão que pensar cada vez mais em oferecer soluções convenientes, mas, ainda mais importante, produtos ou serviços que se preocupem explicitamente em tornar o mundo um lugar melhor e mais igual para todos. A atual crise de saúde está escancarando a nossa desigualdade social e o despreparo que temos, como sociedade, para lidar com problemas mais complexos. Os negócios do futuro próximo precisam se propor a melhorar esse cenário.
A busca incessante pelo ganho individual — com a preocupação egoísta acima de tudo, sem levar em conta as externalidades dos negócios e dos investimentos e seus impactos sobre outros stakeholders — criou uma sociedade frágil e pouco resiliente. De que adianta eu ter uma conta corrente polpuda e uma casa confortável se o mundo está ruindo ao meu redor? Por quanto tempo posso continuar a achar que estou protegido do que está acontecendo do lado de fora dos meus muros?
O que a crise está pedindo é uma visão mais integral para a sociedade e para o modo como conduzimos nossos negócios. Uma visão mais colaborativa, de mais empatia e de mais serviço ao todo. Quando, finalmente, todos os negócios se preocuparem em criar impactos positivos como suas missões, teremos uma sociedade mais igual e com maior resiliência. Não podemos evitar que novos vírus e pandemias apareçam, mas podemos — e devemos — ser uma humanidade melhor quando a próxima onda chegar.
*Daniel Izzo ([email protected]) é sócio-cofundador da Vox Capital.
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