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Jim Simons, a genialidade matemática em fundos de investimento
Imagine você aplicar em um fundo de investimento em plena crise de 2008 e conseguir 150% de retorno no período, enquanto a média de produtos concorrentes sofria 37% de queda
Alexandre Povoa

Imagine então no começo de 2020, em pleno ano da pandemia, auferir 76% de rentabilidade anual, enquanto todos os outros fundos similares de mercado apresentaram perdas enormes.

Agora, imagine você aplicar US$ 1 mil em um fundo de investimento em janeiro de 1988 e ter disponível em sua conta, em dezembro de 2023, nada mais, nada menos, que US$ 140 milhões (já líquido de taxas, antes do imposto de renda). Isso significaria 39% de retorno anual médio durante 36 anos. Como base de comparação, se os mesmos recursos fossem aplicados na Berkshire Hathaway de Warren Buffet, no mesmo período, o valor final do investimento teria sido de “apenas” US$ 220 mil (16% de rentabilidade anual média).

Por fim, imagine hoje você ouvir um aconselhamento de um gerente de banco para aplicar recursos em um fundo de investimento que cobra 5% de taxa de administração + 44% de taxa de performance.

Dá para acreditar em tudo isso? Provavelmente, suas primeiras reações seriam: Será que não estou correndo o risco de entrar em um investimento que seja uma espécie de “pirâmide”? Será que o banco está querendo me “roubar” com custos tão elevados?

Mas esses componentes fazem parte da história real do fundo Medallion, capitaneado por Jim Simons, gestor que nasceu no dia 25 de abril de 1938 no subúrbio de Brookline, em Boston. Ele veio de uma família de classe média, tendo o seu pai trabalhado como representante de vendas da 20th Century Fox e depois em um fábrica de calçados.

Jim Simons demonstrava sua aptidão de menino prodígio para a matemática desde os três anos de idade. Ele viria a obter seu diploma de bacharel em matemática com apenas 20 anos no MIT. Fez um doutorado na Universidade da California, Berkeley, com especialização em Geometria e Topologia (Matemática Pura, mesmo!), tendo voltado para o MIT três anos depois com a ideia fixa de se tornar professor como uma profissão para toda a vida. Não se imaginava fazendo outra coisa, a não ser lecionar.

Durante a Guerra Fria, ele assumiu um posto no Institute for Defense Analyses, onde prestou serviços para a Agência de Segurança Nacional dos EUA na quebra de códigos e cifras usados pela União Soviética. Enfim, um hacker oficial. Contrário à Guerra do Vietnã, foi despedido por desafiar publicamente o seu chefe, favorável ao conflito, a respeito do assunto.

Mas ele viria a trocar definitivamente a academia pelo mundo dos investimentos somente após os 40 anos de idade, quando fundou uma empresa chamada Monometrics. Revolucionário, ele aproveitou a sua genialidade matemática para montar os chamados fundos quantitativos, que nada tinham a ver com os modelos de gestão consagrados de Ben Graham, Warren Buffet, Peter Lynch ou George Soros. Ao invés de Value Investing, o foco era em estatística, data science e machine learningaplicados ao mercado financeiro.

Ele evitou contratar veteranos de Wall Street, tendo se cercado de jovens matemáticos, físicos, astrônomos e cientistas, montando a sua gestora Renaissance Technologies em 1982, na pacata cidade de East Setauket, a 100 km de Manhattan. Uma frase famosa dele expressava um conceito de recursos humanos: “Eu consigo ensinar finanças a um físico, mas não consigo ensinar física para um analista do mercado financeiro.” Sua filosofia na administração de pessoas era bem simples: “Bring good people and let them run”.

No começo de sua trajetória como gestor, Simons operava somente no mercado de commodities. Como curiosidade, o sistema computacional da época indicou oportunidades relevantes no mercado de batatas, e dois terços do caixa do fundo foram transferidos para o segmento, trazendo até questionamentos dos reguladores.

Jim Simons foi então evoluindo para os demais nichos, liderando uma equipe de criptógrafos e matemáticos na análise de busca de padrões, em uma época em que os computadores estavam ainda engatinhando. A ideia, muito bem sucedida, consistia na construção de modelos para a previsão de preços de forma estatística. Para isso, no começo, foram comprados centenas de livros do Banco Mundial, e de outros lugares, juntamente com bobinas magnéticas de várias bolsas de commodities – que traziam os históricos de preços desde antes da Segunda Guerra Mundial. Compreender o passado poderia ser um bom preditor do futuro. “Se entendermos esses padrões, podemos criar tradings algorítmicos”, concluía ele. Ele sabia que, para esse tipo de fundo Medallion, por conta da liquidez do mercado, o tamanho do patrimônio não poderia ser infinito, por isso limitou os ativos sob gestão em US$ 10 bilhões, operando com cerca de 3.500 ativos.   

A sua lição de gestão pode ser resumida em uma frase ilustrativa: “É mais fácil prever a trajetória de um cometa do que a trajetória de ações do Citigroup. A atratividade, é claro, é que você pode ganhar mais dinheiro prevendo o sucesso de uma ação do que de um cometa”.

Em 2003, Simons “expulsou” todos os investidores externos do fundo Medallion, permitindo investimentos apenas de funcionários, que também ficaram também milionários. Quando estourou o escândalo relativos às fraudes nos fundos de Bernard Madoff em 2008, a SEC – Comissão de Valores Mobiliários dos EUA – chegou a visitar a Renaissance para ver se encontrava algum vestígio de irregularidades, dada a excelente performance do Medallion. Obviamente, não acharam nada de anormal.

Jim Simons também demonstrava preocupação com a sociedade. Em 1994, ele, junto com a sua esposa, fundou a Fundação Simons, tendo doado mais de US$ 6 bilhões para causas filantrópicas, com destaque para o apoio à pesquisa em matemática e ciências. Em 2004, eles criaram o Instituto Math for America, que fornece bolsas de estudos para mais de mil professores da área, tendo dispendido cerca de US$ 300 milhões até hoje. Sua obsessão pela área de exatas era ilustrada pelo pensamento: “Se você sabe o suficiente de matemática para ministrar aulas no ensino médio, provavelmente sabe o suficiente para trabalhar no Google, Goldman Sachs ou Renaissance Technologies.” Em 2014, ele foi eleito para a Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Na seara política, Simons nunca escondeu sua preferência pelo Partido Democrata norte-americano, tendo doado mais de US$ 100 milhões para campanhas de candidatos à presidência dos EUA, como as de Hilary Clinton e Jon Biden.

Simons faleceu em 10 de abril de 2024 aos 86 anos em Nova York, tendo acumulado o patrimônio estimado em US$ 31,8 bilhões (fortuna que o colocava entre as 50 pessoas mais ricas do mundo, segundo o ranking da Forbes). Com ele, levou muitos segredos de gestão de recursos que o consagraram como o maior “gestor quant” de todos os tempos.

Para nós gestores, ficam as cinco lições recomendadas por ele para o sucesso na profissão:

  • Faça sempre algo novo, não se mova com a manada.
  • Cerque-se das pessoas mais inteligentes que você possa encontrar.
  • Seja guiado sempre pela beleza da profissão e dos modelos.
  • Não desista facilmente; certas coisas podem demorar mais tempo para acontecer do que o esperado.
  • Tenha sempre a esperança de boa sorte.

Viva o legado de Jim Simons.


Alexandre Póvoa, estrategista da Meta Asset Management



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