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Importância do conselho para o êxito da internacionalização das empresas
Cabe ao conselho definir as metas a serem perseguidas, monitorar de perto esse esforço da empresa e ainda estar atentos a todos os riscos inerentes a etapa imediatamente posterior à iniciativa
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O conselho de administração tem um papel essencial no sucesso de internacionalização das empresas. Afinal, é o conselho que promove as diretrizes estratégicas e resguarda a sua execução e, dessa forma, se torna o principal agente em avaliar a pertinência desse processo. Cabe ao conselho definir quando será iniciada a internacionalização e quais as metas a serem perseguidas. Os conselheiros devem monitorar de perto esse esforço da empresa e ainda estarem atentos a todos os riscos inerentes a etapa imediatamente posterior a implantação da iniciativa.             

Os números da balança comercial brasileira têm sido positivos. Em 2023, por exemplo, quebramos o recorde nas nossas exportações e obtivemos superávit em torno de US$ 100 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Na comparação com 2022, também cresceu 2% o número de empresas exportadoras, que totalizaram 28,5 mil. Apesar dessas estatísticas positivas, nosso país responde hoje por apenas cerca de 1% do comércio mundial, ante 2% na década de 1950. É muito pouco se considerarmos que nossa economia é uma das 10 maiores e se levarmos em conta nossos recursos biológicos e minerais, biodiversidade, maior reserva de água doce do planeta, agropecuária avançada e um respeitável parque industrial.

Há imenso potencial para ampliar o fluxo de comércio do País, não só promovendo as vendas externas e o número de empresas exportadoras, como a internacionalização dos negócios, com maior presença de multinacionais brasileiras nos principais mercados. Também é importante reequilibrar a pauta das exportações, pois, segundo se pode aquilatar analisando os números oficiais do comércio exterior, até o ano 2000, 59% do que exportávamos eram produtos industrializados e 22%, commodities. Em 2022, os números inverteram-se, passando para 29% e 57%, respectivamente.

Fica claro que, além do volume, é preciso incluir no mercado externo mais organizações produtoras de bens de alto valor agregado. O potencial de expansão dos negócios é grande nas quatro principais vertentes da internacionalização: exportação, crescimento no mercado externo, atuação externa direta, com filiais e subsidiárias em outros países, e tecnologia digital.

Em todas essas frentes, a inserção na economia e nos mercados globais, que tem bons exemplos em algumas companhias abertas brasileiras, deve ser muito bem-planejada para que os resultados sejam positivos. O conselho de administração tem papel importante nessa jornada, a começar pela responsabilidade de avaliar sua relação custo-benefício. Também lhe cabe definir as formas de iniciar o processo, estabelecer as metas a serem alcançadas e monitorar o trabalho em todas as suas etapas.

É missão complexa, exigindo que o conselho compreenda em profundidade as etapas e os desafios a serem superados na trilha da internacionalização, projetando os riscos, potencial dos negócios e custos. Por isso, é importante monitorar de modo atento a conjuntura do mercado global, com atenção voltada aos segmentos nos quais a empresa pretende operar, visando antecipar oportunidades, diagnosticar obstáculos e superá-los.

Uma recomendação relevante aos conselheiros é que orientem a companhia a participar de entidades de classe. Essas instituições costumam ter programas de internacionalização e, inclusive em articulação com órgãos do governo, promovem o fortalecimento das relações internacionais. Um exemplo são os convênios de associações representativas de vários setores de atividade com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). Os resultados têm sido positivos.

Outro procedimento recomendável no processo de internacionalização é que o conselho repense suas competências e diversidade, avaliando a pertinência de incluir membros de etnia e/ou com vivência na cultura e nos ambientes de negócio das regiões/nações onde a empresa pretende estar presente. Também cabe requisitar uma análise das relações diplomáticas, comerciais e regulatórias entre os países para identificar potenciais vantagens ou barreiras e contemplar o compliance. É recomendável, ainda, verificar se foram pensadas estratégias para lidar com a dinâmica de competição em escala global, avaliando a possibilidade de joint ventures e/ou aquisições.

Algo fundamental para avaliação do conselho diz respeito aos objetivos a serem alcançados pela internacionalização. Os mais significativos no plano interno da companhia são promover o seu crescimento, aproveitar as capacidades técnicas e produtivas disponíveis, obter ganhos com economia de escala, explorar suas competências ou tecnologias em novos mercados e aprender com eles, compensar sazonalidades e diversificar riscos. Quanto aos fatores externos, os ganhos do processo são a possibilidade de contornar restrições ao crescimento no mercado doméstico, fazer frente à concorrência, diminuir custos, por meio do acesso a fontes de matérias-primas ou outros recursos, obter acesso a linhas de crédito mais atrativas e aproveitar os benefícios e incentivos atrelados a tratados de livre comércio.

Independentemente das metas vislumbradas pela empresa ao decidir pelo movimento de internacionalização, é crucial levar em conta que, como todo movimento de expansão dos negócios, o processo é parte de um plano estratégico mais amplo, em cuja elaboração é fundamental que os conselheiros conheçam em profundidade a posição atual da organização no ambiente competitivo dos mercados nos quais atua e daqueles nos quais pretende estar presente. Por isso, é indispensável considerar as práticas do país de destino das exportações e/ou instalação de escritórios e filiais, como legislação trabalhista e tributária, diferenças culturais sobre padrões de consumo e necessidade ou não de alterar processos, adaptar produtos, serviços e marcas.

Visando contribuir para o trabalho dos integrantes do colegiado no âmbito do movimento de inserção competitiva das empresas na economia global, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) elaborou o estudo O Papel do Conselho no Processo de Internacionalização de Empresas Brasileiras, lançado em 2023. Seu conteúdo é relevante num contexto no qual a participação de organizações de nosso país nos mercados externos ainda é restrita, numa consequência direta de sua entrada tardia nesse processo, do alto nível de regulação e das dimensões da demanda interna, que reduz a necessidade de expansão dos negócios.

Todo conhecimento que contribua para o planejamento e etapas bem-sucedidas da internacionalização é ainda mais relevante no presente cenário geopolítico do planeta, com guerras em curso, aumento da competição entre países líderes na economia global, encarecimento de fretes, problemas logísticos causados pelos conflitos e o acirramento de tensões impõem cuidados maiores e tornam a inserção externa mais complexa. Por isso mesmo, para validar o projeto, o Conselho de Administração deve ter clareza sobre os objetivos, riscos, capital e meios necessários. Num olhar mais amplo sobre os benefícios macro desse processo, os conselheiros tornam-se elementos importantes na inserção competitiva do Brasil na economia global.


Henrique Luz, CCA+, CCoAud+ e CCF IBGC, é conselheiro independente e ex-presidente do conselho de administração do IBGC.


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