“You can fool some of the people all of the time, and all of the people some of the time, but you can not fool all of the people all of the time.” O comentário, atribuído a Abraham Lincoln, faz parte do léxico forense em situações de fraude e escândalo. Embora mais uma vez o roteiro siga um script conhecido, o que chama a atenção é o quilate dos personagens envolvidos: Bill Gates, mandatários do mundo desenvolvido, grandes fundos de pensão e professores das principais escolas de negócios do mundo. Todos dispostos a provar do suco milagroso oferecido por um carismático investidor paquistanês, Arif Naqvi, cujo mantra era resolver a pobreza do terceiro mundo por meio dos negócios e do capitalismo.
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Nascido na Índia, Naqvi cresceu no Paquistão, onde teve a oportunidade de frequentar uma escola de ex-colonizadores ingleses que abriu as portas para o estudo superior na Inglaterra. Ambicioso e determinado a quebrar o ciclo de pobreza que sua origem profetizava, iniciou no mercado financeiro em Londres, e se mudou para a capital financeira emergente do oriente médio, Dubai, onde sua formação e domínio da língua árabe são diferenciais importantes. Confiante e ciente de sua capacidade de atuar como ponte entre o oriente médio e o ocidente, resolveu alçar voo solo e executou um par de transações que viriam a se tornar o embrião da empresa de private equity Abraaj, em 2002.
Alimentada por investimentos feitos por homens de negócios da região, a gestora cresceu em alta velocidade apoiada no tripé de juros baixos pós-crise do subprime, apelo moral do investimento de impacto (“do well by doing good”) e liderança de Naqvi, que acabou se transformando em uma figura eminente do movimento rotulado de filantrocapitalismo.
Uma vez operando o modelo tradicional de investimento em empresas de capital fechado (levantar recursos, investir, vender participação e repagar investidores), o importante era não deixar a música parar de tocar. E a capacidade de Naqvi de gerar retornos impressionantes (que se provaram fictícios) ao mesmo tempo que beneficiava as sociedades onde investia fez com que a Abraaj levantasse fundos cada vez maiores. Mas dentro de casa, a realidade começou a mudar em 2014, quando recursos de um fundo novo foram direcionados a pagar obrigações de um fundo mais antigo, no velho esquema de pirâmide financeira. Escondendo suas finanças com mão de ferro e contando com a incapacidade (ou conivência) dos auditores, Naqvi seguiu sua trajetória até 2018, quando um colaborador a par dos trambiques resolveu expor a fraude, contatando jornalistas do Wall Street Journal em Londres.
A publicação da reportagem investigativa, com ares de thriller policial, provocou perplexidade no mercado financeiro mundial. Da persona publica de Naqvi, gentil, caridosa e preocupada em atacar a pobreza, emergiu um lado sombrio de ganância e estilo de vida esbanjador, quase sempre às custas dos investidores. Seu perfil de liderança autocrático e abusivo também veio à luz. A gestora foi multada em mais de 130 milhões de dólares e Naqvi foi preso. Vale lembrar que, no capitalismo, contos de fadas são como unicórnios: raros e fugazes. Na maior parte das vezes, essas histórias não têm final feliz para ninguém.
The Key Man: The True Story of How the Global Elite Was Duped by a Capitalist Fairy Tale
Simon Clark, Will Louch
Harper Business
347 páginas
1a edição ― 2021
Peter Jancso é sócio da Jardim Botânico Investimentos e conselheiro independente
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