O capitalismo das partes interessadas (stakeholders capitalism) é um caminho sem volta. A pauta ESG tem sido um tema recorrente na mídia e na comunicação corporativa, o que em primeira análise é uma boa notícia. No entanto, o histórico recente do País demanda uma ressalva: é fundamental haver coerência e aderência entre a comunicação e a atuação corporativa.
O ponto central envolve a resposta a três perguntas essenciais. “Por que”, “o que” e “para quem” reportar aspectos ESG nas atividades corporativas. As questões são interdependentes e, em algumas situações, são impactadas pela indústria, pelo segmento e pela região em que as empresas atuam.
Por quê?
O relatório de sustentabilidade é um importante instrumento de gestão e comunicação. Trata-se de uma das principais formas de a empresa prestar contas à sociedade, ao mercado de capitais e aos demais stakeholders sobre a sua atuação e apresentar seus indicadores sociais, econômicos e ambientais com maior transparência.
Para quem?
Para diferentes grupos de stakeholders — instituições responsáveis por standards e frameworks, auditores, provedores de dados, bancos de investimentos, investidores (gestores e proprietários de ativos), reguladores, think-thanks, sociedade, prestadores de serviços, etc.
O quê?
A materialidade dos temas é um conceito fundamental para se gerar informações úteis para a tomada de decisões. No entanto, a sua aplicação não deixa de ser complexa, face a abrangência e a heterogeneidade das questões ESG. Diferentes grupos de stakeholders exercem influência sobre a natureza e forma como as informações ESG são reportadas e utilizadas. Apesar de, muitas vezes, esses stakeholders terem visões distintas sobre o tema, existem consensos construídos sob a forma de standards e frameworks de reporte.
Agenda 2030
Num movimento histórico, líderes globais têm se unido para discutir soluções para os desafios globais. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, estruturada em 2015, reafirma os resultados de todas as grandes conferências e cúpulas das Nações Unidas que estabeleceram uma base sólida para o desenvolvimento sustentável.
As empresas têm papel fundamental no cumprimento das metas contidas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Agenda 2030, em função da sua capacidade de investimento, gestão e inovação. Elas têm condições de viabilizar uma economia sustentável, trabalhando com instituições governamentais e sociais. Empresas em países desenvolvidos, particularmente na Europa, estão à frente na jornada de sustentabilidade em função da atuação de governos, reguladores, investidores, sociedade civil e também por questões culturais.
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Desde 2015, o financiamento direcionado para a Agenda 2030 não tem sido suficiente na escala e velocidade necessárias para o atingimento dos ODSs, em grande parte por causa da baixa participação de investidores do setor privado. A covid-19 exponencionou ainda mais esse desafio, face o imenso rastro de destruição e geração de pobreza causados pela pandemia.
O CFO Principles on Integrated SDG Investments and Finance, lançado em setembro de 2020 pelo Pacto Global da ONU, tem imenso potencial de contribuição, pois seu objetivo é engajar a comunidade global de CFOs para alinhar os investimentos e finanças corporativas com os ODSs. Os CFOs (chief financial officer, ou diretor financeiro), são guardiões de investimentos da ordem de trilhões de dólares e, na visão do Pacto Global, constituem a última peça do quebra-cabeça das finanças sustentáveis.
Pressão de investidores e sociedade
A sociedade civil e os investidores institucionais — estes na qualidade de provedores de recursos para as empresas — ocupam posição privilegiada para demandar que as empresas assumam sua responsabilidade nesse processo de mudança na forma de atuar. Vale mencionar a atividade de stewardship, movimento global que promove o senso de propriedade nos investidores institucionais, criando padrões de engajamento responsável.
O UK Stewardship Code 2020 é uma relevante fonte de inspiração, por ter estabelecido um padrão muito mais elevado do que a sua versão anterior. O novo código marca uma mudança substancial de “declarações de políticas” para foco nas atividades (o que os investidores fizeram) e seus resultados (qual foi o resultado alcançado). Vale observar que a atividade de stewardship chegou ao Brasil em 2016, com o Código Amec de Stewardship.
Não existe um caminho único, mas é certo que ele precisa ser genuíno, refletido e bem estruturado. Empresas que se limitarem a tornar a sua “vitrine” mais atrativa, sem realmente inserir sustentabilidade no seu modelo de negócios e estratégia, correm o sério risco de perder a licença para operar. De forma análoga ao jogo de xadrez: se não houver visão e estratégia, o jogador pode ter de abandonar prematura e compulsoriamente o tabuleiro.
Ana Siqueira, CFA ([email protected]) é sócia fundadora do Artha Educação
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