Quando o PT iniciou um projeto politicamente vencedor usando disparos de mensagens por robôs, achou que a estratégia seria um mero viabilizador para seu projeto político e de poder. É verdade que se não fossem os vergonhosos e vultosos esquemas de corrupção — somados às incompetências de gestão e política do governo Dilma — possivelmente Lula e companhia estariam ainda no poder. Mas o que eles e nem ninguém esperava era que o efeito das fake news fosse esmorecer diante de uma saturação de objetividades dogmáticas e de subjetividades políticas.
Eis que o feitiço virou contra o feiticeiro: Bolsonaro acabou usando as mesmas ferramentas para se eleger, com ainda mais maestria que o pioneiro PT. Mas logo o efeito das fake news esmoreceu, pois elas só funcionam nos extremos radicais — ou seja, não converte oposto e nem atrai mais quem está no meio (fora dos extremos), que hoje é a imensa maioria. Portanto, as fake news estão servindo apenas para aguçar o radicalismo e, por consequência, afastar quem quer pensar, refletir e transformar socialmente o Brasil por meio de uma política mais republicana.
O senso comum também está sendo polarizado, pois o fomento de um juízo imediato — isto é, sem mediação — se manifesta apenas nos polos dicotômicos. Com isso, o único senso comum que parece florescer na maioria que se encontra fora dessas extremidades é um enojamento tanto do lulopetismo quanto do bolsonarismo, que se apresentam cada dia mais semelhantes em estilo e em resultados político, social e econômico.
Busca do mito
A necessidade de se ter um mito, uma referência dogmática, não é fato novo. Mas a viralização do dogmatismo por meio das redes sociais acaba por gerar uma rápida criação mitológica e um descolamento brutal da realidade. Assim, mesmo vivendo no chamado mundo da pós-verdade — onde há apenas fake news, já que para existirem true news seria necessária uma mediação absoluta e hegemônica, tarefa impossível neste mundo plural —, as “verdades” radicalizadas tendem a se concentrar apenas em guetos de cordeiros apaixonados por seus pastores.
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Essas “verdades” radicalizadas são desprovidas inclusive de subjetividades, já que estas são de cunho utópico e niilista, em que a causa, e não o ser, se torna o bem maior do viver. Nesse contexto, não é preciso pensar nem refletir: basta seguir e repetir as palavras do culto messiânico.
Expurgo de utopias radicais
Com isso, abre-se uma grande janela de esperança, fruto de um oscilar tanto do lulopetismo quanto do bolsonarismo entre o ridículo e o psíquico-patológico. É possível que seja rompido esse movimento político pendular com a chegada de uma via do meio. Mas não no sentido matemático de média ou meio-termo, mas sim um movimento orbital em torno de elementos socioeconômicos cruciais, que exprima a pluralidade e expurgue as utopias radicais. Vejo uma janela na qual o debate entre esquerda e direita se torne tão esdrúxulo a ponto de mover os rótulos políticos para contextos políticos.
Falando em utopia… Posso parecer utópico (e, de fato, com a histórica corrupção na nossa política, me pego desgarrado da realidade), mas é justamente um enojamento diante dessas práticas que cria um dado de realidade. O campo de batalha dos xifópagos é a briga com o outro. Com isso, enquanto houver o radicalismo não haverá alianças indecorosas que fiquem debaixo do tapete: elas sempre emergirão como pauta central da disputa política e, por isso mesmo, vejo a tal janela de esperança no meio ao esgotamento de nossas mazelas históricas.
Enxergo um espaço para um governo inédito, um governo de fato republicano, que não precise de fake news para chegar e nem se sustentar no poder, e que gere mais consciência que salvação para nossa sociedade.
Alexandre Fialho ([email protected]) é sócio-fundador da Filosofia Organizacional, conselheiro de diversas empresas, mentor de grandes líderes e professor
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