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Apesar de tudo, uma janela de notícias boas
Mesmo com os tropeços do governo Lula, a inflação melhora, o desemprego cai e o novo arcabouço fiscal é uma promessa de controle das contas públicas
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Evandro Buccini, é sócio e diretor de Renda Fixa e Multimercado da Rio Bravo Investimentos | Ilustração: Julia Padula

Apesar de a análise da conjuntura não ser o foco desta coluna, o elevado nível de ruído aumenta o valor de um texto com essa temática. Desde que ganhou a eleição em novembro, o presidente Lula não perde uma oportunidade de aumentar a incerteza em relação à política econômica. O presidente fala muito, mas não propõe e muito menos aprova soluções. Quase nenhuma medida foi publicada no diário oficial, e o governo sofreu derrotas no Congresso Nacional. 


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A economia não foi um assunto da campanha eleitoral em 2022. Diante da ausência de evidências, os analistas esperavam que, uma vez eleito, Lula seria pragmático como foi na maior parte dos seus primeiros mandatos, quando Henrique Meirelles presidia o Banco Central com total autonomia. O prenúncio do que viria foi a negociação da PEC de transição, que autorizou desembolsos que somavam centenas de bilhões de reais acima do orçamento e preparou o terreno para a substituição do teto de gastos. Sem equipe anunciada, os atuais ministros das pastas de economia não participaram dessa negociação. O ápice do tom belicoso do presidente Lula foi o confronto aberto com o Banco Central, especialmente do seu presidente, Roberto Campos Neto.  

Nunca antes na história deste país um governo começou tão devagar, sem conseguir aprovar matérias no Congresso. Várias medidas provisórias caducaram e até a mais básica, a MP de organização dos ministérios, foi votada horas antes de vencer. O governo parece que não entendeu a nova dinâmica do Congresso, que reflete a eleição apertada e a menor popularidade do Executivo. Para os que temem a política econômica do novo governo, a Câmara já deixou claro que projetos que ataquem leis aprovadas nos últimos anos, como a que estabeleceu a independência do Banco Central e o marco do saneamento, não passarão. 

Otimismo para o futuro 

Apesar de tudo isso, a economia está indo melhor do que o esperado. A divulgação do PIB do primeiro trimestre do ano chamou a atenção e mereceu muito espaço nas notícias, mas as surpresas positivas ficaram concentradas na agricultura e na exportação, com a demanda doméstica fraca, se desconsiderarmos a variação de estoques. Nas últimas décadas aprendemos que o setor primário contamina o resto da economia, através de um canal não muito bem conhecido, mas que pode ser motivo para otimismo para o futuro.  

O mercado de trabalho é o grande destaque positivo: a taxa de desemprego no primeiro trimestre ficou em 8,8%, menor valor desde 2015. A forte queda em um ano é explicada pelo aumento da população ocupada. A renda média real cresceu 7,1%, enquanto a massa salarial real aumentou 10,5%. Uma das fontes prováveis de impulso positivo para a economia é o aumento de transferências e do salário-mínimo aprovados pelo novo governo entre o final de 2022 e o início deste ano. A PEC de transição autoriza aumento de gastos de 200 bilhões de reais.  

Em 2023, a maior vitória do governo no Legislativo foi o “arcabouço fiscal”, nova política de médio prazo que substitui o teto de gastos. O projeto limita o crescimento dos gastos a 70% do aumento das receitas, com variação mínima de 0,5% e máxima de 2,5% em termos reais. A principal mensagem que o governo passa é que não haverá descontrole das contas públicas, como o que aconteceu durante a administração de Dilma Rousseff. 

A inflação está elevada em todo o mundo e, no Brasil, não é diferente. Os estímulos fiscais e monetários da pandemia e a guerra da Ucrânia levaram a um choque de preços que contaminou salários e serviços. Praticamente todos os bancos centrais subiram a taxa de juros nos últimos anos para conduzir a inflação de volta à meta. A primeira fase da desinflação, concentrada em bens, já aconteceu. Mas a queda da inflação de serviços deve demorar, já que a economia continua aquecida. De acordo com o IPCA de 15 de maio, a inflação em 12 meses está em 4,07%, enquanto os serviços sobem 6,45%. O consenso hoje entre os economistas é de que o Conselho Monetário Nacional não vai apertar a meta de inflação, o que deve reduzir as expectativas de inflação e facilitar a queda da taxa de juros. 

A melhora da inflação, a redução do ruído causado pelo governo e o afastamento das projeções fiscais mais pessimistas com a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara levaram à melhora dos preços dos ativos de risco no Brasil nas últimas semanas. A curva de juros já precifica uma queda da Selic a partir de agosto ou setembro, saindo de 13,75% para menos de 10% no final de 2024. O índice Ibovespa já sobe quase 15% em relação ao menor valor do ano em março. Os excessos da PEC de transição, as brigas e os erros de comunicação elevaram a volatilidade e custaram alguns meses de juros mais altos. Se o governo quiser corroborar os movimentos dos mercados e aproveitar a janela de notícias positivas, basta não atrapalhar. 

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