Vivemos numa época em que as empresas têm sido desafiadas a demonstrar maturidade e responsabilidade em suas atividades e nas relações que mantêm com acionistas, governos, instituições, clientes e fornecedores. Nesse sentido, é possível notar que elas se esforçam para dar as respostas mais adequadas a essas demandas.
Como sabemos, as companhias que hoje são listadas em bolsa de valores – por serem obrigadas a cumprir uma série de exigências de enquadramento e de respeito a regras, normas e preceitos – acabam sendo aquelas que mais investem na adoção de ferramentas e na constituição de instâncias de controles, governança, compliance e transparência. Até por essa razão têm à disposição canais de capitalização muito mais acessíveis e seguros que as demais empresas.
Por outro lado, mesmo diante de custos significativos e da necessidade de qualificação da gestão empresarial, organizações que ainda mantêm seu capital fechado têm trabalhado para demonstrar uma atuação equilibrada e responsável, adotando práticas como contratação de auditorias externas para avaliação das demonstrações financeiras e adoção de instâncias de controle interno, como conselhos de administração. Caso essa adequação tenda a levar as organizações à abertura de capital, a grande vantagem é que, mesmo diante dos custos envolvidos nesse processo, passarão a contar com mais oportunidades de captação de investimentos junto ao mercado.
É disso que trata o levantamento “Custos para abertura de capital no Brasil – Uma análise sobre as ofertas entre 2005 e 2017”, realizado pela Deloitte em parceria com a B3 com 198 companhias que abriram capital ou fizeram ofertas subsequentes de ações (follow-ons) entre janeiro de 2005 e abril deste ano.
Uma das principais preocupações das empresas em relação ao processo que leva à abertura de capital é justamente o custo de preparação e de realização do IPO (oferta pública inicial de ações). As companhias investiram 4,8% do valor distribuído nas ofertas iniciais realizadas nos últimos 12 anos na sua preparação para a oferta, de acordo com a mediana apurada pelo estudo da Deloitte.
Vale destacar que as organizações que se preparam há mais tempo para abrir seu capital – com um planejamento bem estruturado e a adoção, com antecedência, de estruturas de governança, controles, compliance e transparência que são exigidas das companhias abertas – tendem a reduzir e a diluir seus custos ao longo do tempo.
O levantamento mostra que a transição de uma empresa fechada para uma companhia com ações em bolsa, desde que bem planejada, é uma operação simples. A sugestão é que as organizações que tenham o IPO em sua estratégia sempre avaliem cuidadosamente os desafios, as oportunidades e os riscos envolvidos nesse processo, contando, em muitos casos, com o auxílio externo para a tomada de decisões.
No balanço entre desafios e oportunidades, as companhias que decidem abrir seu capital precisam saber que o mercado e demais instâncias passam a ter uma melhor percepção daquelas que entram para a bolsa de valores, especialmente em razão de adoção de práticas contábeis mais formais e rigorosas; sistemas de compliance, transparência, governança e gestão de riscos; melhores controles financeiros; regulação e fiscalização pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela B3; adequação a um novo ambiente fiscal e de regulamentação; e criação de canais de comunicação transparente. Tudo isso somado tende a produzir um novo retrato da organização, que é percebido com mais atenção e respeito por toda a sociedade.
*Carlos Zanotta é sócio da área de mercado de capitais da Deloitte
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