Aos 16 anos, quando começou a trabalhar como boy do pregão, cerca de quatro décadas atrás, o economista Rogerio Marques não poderia imaginar que não só veria o nascimento, como também ajudaria no parto de quase todos os 23 índices de renda variável que servem como benchmark do desempenho da bolsa de valores brasileira.
Hoje com 58 anos, o “pai dos índices”, que encerrou sua carreira em 2016, como coordenador de Índices e Banco de Dados, só não viu nascer o filho mais velho — e famoso — do mercado: o Ibovespa, criado em 1968, apenas seis anos antes do início da sua carreira na então Bovespa.
“Eu cheguei aqui sem saber nada sobre mercado de ações. Achei fascinante, aprendi muito e me diverti. Logo que entrei, descobri que existia um departamento que se chamava custódia. Não tinha a menor ideia do que era, mas já morri de amores. Minha avó se chamava Custódia”, relembra, bem-humorado.
Apesar de muitas pessoas ainda não saberem, mais do que um player do mercado financeiro, a B3 é hoje uma grande companhia de tecnologia. Mas nem sempre foi assim.
Acredite-se ou não, uma das primeiras funções de Rogerio foi a de desenhista. Seu principal instrumento de trabalho era o tecnígrafo, uma espécie de prancha em que ele desenhava todos os dias, à mão, os gráficos de desempenho de todos os ativos negociados no pregão para o Boletim Diário de Informações, o bom e velho BDI.
Difícil de imaginar como era trabalhar em um mercado que não contava com os recursos das planilhas e macros, dos terminais que recuperam cotações históricas e constroem todo tipo de gráfico instantaneamente e do Market Data, que registra cotações de high frequency trading no exato milissegundo em que elas acontecem.
Rogerio é do tempo em que o pregão contava com rodas de negociação, em que todas as operações eram fechadas no grito e registradas com delay em um painel eletromecânico, atualizado parte automaticamente, parte manualmente. Em meados dos anos 1980, ele viu os primeiros computadores chegarem ainda de forma tímida, automatizando pouco a pouco os processos de negociação e pós-negociação.
Em 1990, ele testemunhou também a implantação do primeiro sistema de negociação eletrônica, o CATS, que registrava cerca de 4 mil negócios por dia. Sete anos depois, também estava na casa quando esse sistema foi atualizado para o MegaBolsa, com uma capacidade de negociação considerada impressionante para a época: 125 mil negócios diários. Trata-se de números bastante distantes dos registrados hoje pelo PUMA Trading System, que processa em média 2 milhões de negócios diariamente — chegando a 3,5 milhões em dias de pico — e mais distantes ainda da meta da Clearing, que ampliará a capacidade da plataforma para 10 milhões de negócios por dia, atendendo às expectativas de crescimento do mercado na próxima década.
Em meio a tantas memórias, quando questionado sobre as principais lembranças na sua trajetória profissional, Rogerio destaca dois momentos: a criação, em 2005, do primeiro índice de sustentabilidade da América Latina e quarto do mundo — o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) — e o aprimoramento da metodologia do Ibovespa, em 2013, depois de 45 anos sem alterações.
“Não consigo citar todos os melhores momentos. Assim como a Bolsa, tive altos e baixos, mas todo o conjunto foi bom. Superar crises está no DNA do mercado e levo isso comigo como aprendizado para a vida”, afirma.
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