Pesquisar
Close this search box.
O conceito de “wealth leverage”

A intensificação da competição e a constante busca pela diferenciação colocaram o capital humano em uma posição de destaque dentro do contexto organizacional das empresas. Neste cenário, uma questão cada vez mais determinante no sucesso das companhias é como desenhar um plano de remuneração que transforme profissionais em empreendedores.

Além de seus componentes básicos, como composição (fixo ou variável), instrumentos (bônus, opções, etc.), horizonte (curto ou longo prazo) e distribuição do pagamento (à vista ou com diferimento), a estruturação de um plano de remuneração deve estar calcada em alguns conceitos fundamentais que definirão a sua eficácia ou não.

Alguns são bastante conhecidos e levados em conta pelas organizações. A popularização dos planos de opções de ações, por exemplo, é um reflexo da preocupação das companhias em alinhar os interesses de acionistas e gestores.

Mas, após a definição de todas essas características, a questão que fica aberta é: esse plano de remuneração é capaz de transformar executivos em donos? Como avaliar se o plano que está sendo desenhado pode alcançar esse objetivo? Um conceito que tem ganhado força para responder essa questão é o “wealth leverage”, ou alavancagem da riqueza.

Vamos considerar um diretor de uma unidade de negócios que represente 10% de uma empresa. Suponhamos que seu patrimônio seja de R$ 1,5 milhão mais R$ 200 mil que ele recebeu em ações na sua contratação. Qual o impacto na sua riqueza se ele dobrar o valor da sua unidade de negócios? Se ele atingir esse objetivo, o preço das ações terá acréscimo de 10% e seu montante em papéis valerá R$ 220 mil. Portanto, apesar de ter aumentado em 100% o valor de sua unidade de negócios, sua riqueza cresceu apenas 1,2% (R$ 20 mil, com a valorização das ações, sobre R$ 1,7 milhão de riqueza inicial). Esse diretor tem uma relação de 0,01 entre o crescimento do negócio e o aumento do seu patrimônio.

Este exemplo ilustra o conceito de wealth leverage, que é o retorno sobre a riqueza do executivo para um dado retorno no valor do negócio. Esta métrica indica o quanto o plano de remuneração alinha o crescimento do patrimônio do executivo com o crescimento da riqueza do acionista. Teoricamente, um empreendedor puro teria um wealth leverage de 1,0, enquanto um gestor, com toda a remuneração atrelada a salário fixo e benefícios, teria uma alavancagem próximo a zero.

A aplicação desse conceito pode trazer contribuições interessantes para o desenho do plano de remuneração. Em um artigo de 2005, O’Byrne & Young(1) realizaram simulações, para um horizonte de cinco anos, para avaliar a alavancagem da riqueza de um gestor com a remuneração composta por salário fixo mais bônus target igual a um salário anual, acrescido/reduzido pelo desempenho das ações em cada ano. Apesar do alto percentual variável do pagamento, a mediana das simulações resultou em uma alavancagem de apenas 0,11. No entanto, se o sistema de bônus fosse modificado para que o target de cada ano seja igual ao bônus pago no ano anterior, obtém-se uma alavancagem de 0,31 na mediana das simulações. Ou seja, o ajuste em apenas um aspecto do plano de remuneração foi capaz de triplicar a alavancagem da riqueza do gestor, sem a introdução de instrumentos mais sofisticados.

O’Byrne & Young estudaram os pacotes de remuneração de altos executivos de 702 empresas americanas e encontraram uma alavancagem mediana de 0,43. Adicionalmente, os autores analisaram a relação entre o wealth leverage e os excessos de retorno das ações, ou seja, a valorização das ações ajustada pelo retorno do mercado e da indústria. As companhias que estavam no terceiro quartil de wealth leverage apresentaram um excesso de retorno médio de 1,9% ao ano, versus -2% ao ano daquelas situadas no segundo quartil.

No entanto, um ponto a se considerar na aplicação do wealth leverage é a necessidade de se estimar a riqueza do gestor, o que envolve o cálculo de valor presente de recebimentos futuros, que são incertos. Apesar disso, ele é uma ferramenta que ajuda a responder qual a eficácia do plano em alinhar os interesses de gestores e acionistas e como a combinação de diferentes instrumentos de pagamento pode contribuir para esse objetivo.


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.