Pasadena está expondo Petrobras ao ridículo: ninguém sabe, ninguém viu
02/04/2014

A Petrobras fez um mau negócio em 2006. Comprou, por US$ 360 milhões, 50% da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, cujo preço total pago pela Astra Oil, um ano antes, tinha sido de US$ 42,5 milhões. Ao assinar o documento de compra, se comprometeu a adquirir a outra metade se houvesse desentendimento com o sócio — e foi justamente o que aconteceu. O resultado é que acabou gastando US$ 1,18 bilhão com algo que chega a ser chamado de monte de sucata por alguns especialistas.

O mercado ficou sabendo desse caso há um bom tempo. Somou mais um problema à já farta lista de aborrecimentos com a Petrobras. Pasadena era apenas um dos fatores que contribuiu para a maior empresa brasileira ter suas ações negociadas a menos de R$ 13 no meio de março (depois de ter chegado ao pico de R$ 42 em maio de 2008).

Comparado à dívida de R$ 268 bilhões, que não para de aumentar, o caso Pasadena é visto por alguns investidores como coisa pouca. Fontes ligadas à companhia chegam a dizer que “vai uma Pasadena a cada 15 dias” — graças, por exemplo, ao congelamento do preço dos combustíveis imposto pelo governo para controlar a impopular inflação. O período de 15 dias pode ser exageradamente curto, mas não chega a ser uma estimativa surreal. Em 2013, a dívida da empresa subiu mais de US$ 22 bilhões, ou 18 Pasadenas. Uma Pasadena e meia por mês. Três quartos de Pasadena por quinzena. (Agora, as agências de rating estimam que a dívida da Petrobras crescerá a um ritmo de pouco menos que uma Pasadena por ano [US$ 1,1 bilhão].)

Veio o ano eleitoral e o interesse de expor todas as disfunções da estatal aumentou. Nessa época, jornalistas são como nunca procurados por fontes dispostas a revelar uma ata aqui, um documento ali. A partir do momento em que o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma reportagem sobre o voto de Dilma Rousseff e outros conselheiros a favor da compra, a imprensa começou um escrutínio ao qual deveria submeter governantes, instituições, administradores e empresas sempre. O resultado dessas investigações é, basicamente, que ninguém sabia de nada, ninguém viu nada:

1. Os conselheiros aprovaram a compra por unanimidade. Alegam não ter tido acesso a documentos completos e não ter sequer ficado sabendo das cláusulas desfavoráveis à Petrobras. Na época, o conselho de administração era formado por:

– Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil (hoje presidente da República);

– José Gabrielli, diretor-presidente da Petrobras;

– Antonio Palocci, ministro da Fazenda (hoje consultor de empresas);

– Jaques Wagner, ministro das Relações Institucionais (hoje governador da Bahia);

– Gleuber Vieira, ex-comandante do exército e conselheiro da estatal até 2006;

– Fabio Barbosa, executivo do ABN Amro (hoje presidente da Abril);

– Arthur Sendas, empresário, falecido em 2008;

– Claudio Haddad, dono da faculdade Insper;

– Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do conselho da siderúrgica Gerdau e membro da Câmara de Gestão e Planejamento do governo federal, entre outras atividades.

2. O Citigroup, que fez uma avaliação da operação, deu um parecer favorável à compra. Isso é o que o vice-presidente Michel Temer diz que o ministro da Fazenda Guido Mantega disse. O Jornal Nacional, no entanto, revelou que o parecer do Citigroup tinha várias ressalvas e se baseava apenas em dados fornecidos pela Petrobras.

3. A consultoria BDO, que também avaliou a compra, enxergou vários problemas de contabilização de ativos e dívidas na refinaria americana e diz que o prazo de análise foi curto.

4. Havia um comitê, formado por representantes da Petrobras e da Astra Oil, responsável por decisões estratégicas referentes a Pasadena. Tinha, com relação a essa refinaria, mais poder que o próprio conselho de administração. Graça Foster, atual presidente da estatal, ficou sabendo da existência dele apenas este ano.

Resumindo: os conselheiros não analisaram um contrato de compra que poderia chegar a um valor bilionário e ignoraram um parecer crítico e outro favorável cheio de ressalvas metodológicas, ambos pagos pela Petrobras; e a direção da petroleira não sabia da existência de um órgão capaz de tomar decisões que poderiam gerar prejuízos de mais de US$ 1 bilhão. O problema exposto pelo caso Pasadena não é tanto o bilhão perdido, mas a forma tragicômica como os gestores da maior empresa brasileira não têm muita ideia do que acontece lá dentro.


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