Nem Carl Icahn pode com elas
11/02/2014

Carl Icahn é a personificação do estilo agressivo de ativismo que vem tomando conta dos Estados Unidos. Ele chegou a brigar ao vivo na rede de televisão CNBC com outro investidor ativista, Bill Ackman, por causa da empresa de nutrição Herbalife. Aquele episódio parecia mostrar que Icahn não tinha medo de comprar briga (e também não tinha muita noção: chamou Ackman de típico menino judeu que sofria bullying na escola). Contudo, ao publicar em seu site uma carta em que dizia desistir de sua proposta de recompra de ações da Apple, ele mostrou que não é bem assim. Preferiu contemporizar e não entrar em uma discussão com a poderosa consultoria de voto ISS.

Ontem o investidor tomou as manchetes de vários portais de economia com o anúncio da desistência de um dos planos mais incisivos: convencer a Apple a recomprar mais US$ 50 bilhões de dólares em ações, de modo a valorizar os papéis e aumentar os dividendos. A desistência veio após a ISS recomendar os demais acionistas a dizer “não” à proposta de Icahn na assembleia de 28 de fevereiro. Para a consultoria, intensificar o programa de recompra que a Apple já vinha pondo em prática sairia caro demais e poderia criar dificuldades para a companhia.

Icahn buscou ser diplomático na sua carta: embora confessasse estar desapontado com a recomendação, concordava com a ISS em alguns pontos. Ele admitiu, por exemplo, que a empresa já vinha fazendo um programa de recompras bastante expressivo. Revelou estar empolgado com o futuro da Apple. Tirou o time de campo.

Mas o que a ISS tem para conseguir manter Carl Icahn comportado? Talvez a consultoria tenha apenas lhe dado a oportunidade de desistir elegantemente de um plano que, na sua percepção, não era mais tão interessante quanto imaginava. É bem provável, no entanto, que ele tenha preferido não gastar energia brigando com um peso-pesado.

A ISS tem cerca de 60% do mercado de consultoria de voto. A Glass Lewis, segunda maior, tem 37%. Juntas, elas recomendam a forma como boa parte dos investidores institucionais do mundo deve votar. É tanto poder concentrado que a Securities and Exchange Commission (SEC) e o congresso americano estão preocupados e vêm promovendo debates sobre o assunto.

A preocupação vai além da esfera legal e regulatória, e chega ao mercado. Edward Knight, vice-presidente da Nasdaq, enviou à SEC, em outubro, uma petição para que fossem tomadas medidas para tornar essas firmas mais transparentes. Ele disse que as consultorias tendem a analisar os assuntos em pauta nas assembleias de forma genérica, o que geraria insegurança para as companhias — a grande maioria das empresas não recebem tanta atenção quanto a Apple recebeu no caso Icahn, por exemplo. A SEC parece concordar com Knight.

Com tantos debates e propostas em 2013, tudo indicava que 2014 seria um ano de mudanças para as consultorias de voto. É cedo demais para afirmar que não. A ISS começou a temporada de assembleias com o improvável trunfo de fazer Icahn baixar a bola. A ver se os ventos continuarão favoráveis.


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