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A ética e a transparência são princípios básicos da governança que não foram seguidos pela Petrobras

Escrever sobre a Petrobras na atual conjuntura é um desafio bastante complexo. Como falar sobre algo que foi no passado recente uma das principais pautas dos assuntos relacionados a empresas e governo? A tentativa é válida. E, muito embora já saibamos os resultados financeiros de 2014 e do primeiro trimestre de 2015, após serem considerados todos os efeitos da corrupção e dos erros estratégicos cometidos no passado recente pelos gestores desse ícone brasileiro, procuraremos consubstanciar os nossos comentários com base em valores.

Tanto os valores monetários como, sobretudo, aqueles que representam os princípios definidores da trajetória de uma grande corporação. No caso da Petrobras, trata-se de: 1. desenvolvimento sustentável; 2. integração; 3. resultados; 4. prontidão para mudanças; 5. empreendedorismo e inovação; 6. ética e transparência; 7. respeito à vida; 8. diversidade humana e cultural; 9. pessoas; 10. orgulho de ser Petrobras. Esses valores são dignos para qualquer tipo de empresa, sobretudo para a maior companhia nacional e uma das maiores corporações globais em seu setor de atuação. Não obstante, uma de suas principais diretrizes não foi seguida: ética e transparência.

É sabido que, como regra geral, as empresas sob controle do governo são utilizadas com objetivo de troca de favores políticos. Com isso, nem sempre se nomeiam os mais preparados para geri-las de acordo com as boas práticas de governança corporativa. No caso da Petrobras, voltando um pouco no tempo, durante o governo do Partido dos Trabalhadores foram nomeados, como presidentes, profissionais que em seus currículos, não apresentavam experiência comprovada para gerir uma corporação desse porte. Posteriormente, veio Graça Foster, que, embora fosse funcionária de carreira e possuísse formação técnica compatível, não conseguiu demonstrar liderança empresarial e capacidade para comandar a petroleira, principalmente quando a operação Lava Jato veio à tona. É público que Foster “esteve” em alguns momentos presidente da Petrobras para atender exclusivamente os anseios da presidente Dilma Rousseff, que anteriormente fora presidente do conselho de administração da companhia durante o governo Lula.

Além disso, a própria Petrobras foi ferramenta de política econômica com o objetivo de controlar a inflação, durante o período em que os preços dos derivados do petróleo ficaram estagnados no Brasil e não acompanharam os valores internacionais. Essa conduta contribuiu para reduzir os resultados da empresa, afetando diretamente o retorno dos investimentos dos seus acionistas.

Desvios podem acontecer em qualquer organização que não possua boa governança, ferramentas de gerenciamento de riscos e auditoria interna. Ferramentas que em tese a Petrobras deveria ter, não somente por sua magnitude mas por estar obrigada a tal, na medida em que é uma companhia listada no Brasil e no exterior, sujeita a regras extremamente rígidas de compliance e de prestação de contas a seus stakeholders. Conluio e fraudes, com certeza, aconteceram por fatores que vão além de uma questionável gestão e envolveram interesses individuais e partidários que aproveitaram a situação para benefícios próprios e alheios.

O estrago está feito e é muito grande. Assim indicam acontecimentos recentes e dados divulgados pela própria área de relações com investidores da Petrobras, presentes no balanço de 2014: perda do grau de investimento na avaliação da agência de risco Moody’s, em fevereiro; provisão de perdas com corrupção de R$ 6,2 bilhões; provisões para desvalorização de ativos de R$ 44,6 bilhões, sendo R$ 31 bilhões de perdas na Comperj e na Refinaria Abreu e Lima; por fim, prejuízo em 2014 de R$ 26,6 bilhões. Mais do que os números, as imagens da empresa e do próprio Brasil no âmbito internacional estão lamentavelmente manchadas.

Esperemos que os novos membros eleitos para o conselho de administração, de perfil técnico, sejam combativos, no sentido de buscar a adoção das melhores práticas de gestão por parte do corpo diretivo da empresa. Além disso, que a União se mantenha como uma acionista e não interfira na gestão e em outras questões não empresariais. Por fim, que seja o início de uma mudança de cultura corporativa não somente da Petrobras, mas do Brasil com um todo.


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