A Vivest, maior fundo de pensão de empresas privadas do Brasil, segue firme em seu propósito de atrair recursos de novos patrocinadores. “Sempre fomos multipatrocinados, no começo apenas com empresas do setor elétrico, mas a partir de 2019 buscamos diversificar em outros setores”, comenta Walter Mendes, diretor-presidente da Vivest (antiga Funcesp). Com um volume de R$ 38,4 bilhões sob gestão, a Vivest tem na carteira 25 planos de previdência de 13 grupos privados que incluem Ford, Sabesp, TIM, Roche e, mais recentemente, a Alpargatas, cujo acordo de transferência de gestão do plano inclui 16,4 mil participantes e um patrimônio social de R$ 471,2 milhões. Em entrevista à Capital Aberto, Mendes falou sobre a elevada concentração dos recursos em títulos públicos, perto de 80%, e na expectativa por uma diversificação “assim que os juros derem sinais e queda”. Na Vivest, ações já representaram 30% do PL e investimentos internacionais 14% (incluído ETF). Hoje, somados não chegam a 5%. “O importante é manter a estrutura mobilizada, acompanhar o mercado para diversificar quando for preciso.” Acompanhe a entrevista:
Dados da Abrapp mostram que 81% dos recursos das fundações estão na renda fixa, título
público. Não tem espaço para uma diversificação?
É uma questão de realidade. As NTNBs do governo estão pagando taxas de juros reais acima de 6%. A Selic está com uma taxa de juros real da ordem de 7%. Por que correr risco com uma diversificação se você tem uma garantia de remuneração dessa ordem e com segurança ? É um ativo líquido, seguro, e que tem uma rentabilidade acima das nossas metas. A realidade hoje é essa.
Qual a perspectiva de que haja uma mudança nesta realidade? Como ficar preparado
para este momento
No passado, já tivemos esta diversificação, quando os juros estavam baixos. A gente tem que manter uma estrutura, ter pessoas, metodologia, processos para quando for necessário diversificar. Não podemos desmobilizar o nosso acompanhamento do mercado. Até porque taxas de juros dessa ordem nos títulos públicos não são sustentáveis no longo prazo. Quando perceber que as taxas de juros tendem a cair, porque o mercado sempre se antecipa aos fatos, a gente já começa um processo de diversificação. Temos R$ 38 bilhões de patrimônio o que nos obriga a fazer movimentos de uma forma lenta e gradual. Eu não me preocupo com este aspecto olhando o longo prazo (falta de diversificação hoje) porque sei que a Vivest tem capacidade de conduzir este processo
No começo do ano foi criada a nova debênture de infraestrutura, pensando em atrair
recursos dos fundos de pensão. Interessa ?
Ainda não é interessante. A infraestrutura no Brasil tem um risco de execução relativamente alto. Tem os riscos jurídicos, o risco de execução. Volto a dizer, é difícil correr o risco em um projeto de infraestrutura, quando você tem taxas de juros reais das NTNBs. A gente gostaria de ter uma diversificação muito maior da Vivest. Entidades fechadas de previdência complementares também gostariam. Mas você tem que pensar na gestão dos recursos das pessoas que são geridos por nós. Olhando o balanço de risco-retorno, infelizmente ainda não é atraente. No passado, quando os juros estavam altos, os fundos de pensão tomaram alguns sustos quando as taxas caíram e começaram a diversificar rapidamente, sem expertise.
A Abrapp está tentando mudar a regra que obriga as fundações a venderem todos os
imóveis físicos que possuam até 2030. É uma demanda importante para a Vivest?
Nós temos apenas dois investimentos em imóveis físicos. E são muito pequenos em relação ao nosso patrimônio. Nós, na verdade, vendemos antecipadamente o que tínhamos. A questão é que mesmo se não fosse uma obrigação, e nós não vendemos por causa da obrigação, a indústria de fundos imobiliários cresceu muito e as oportunidades em FIIs aumentaram. É muito mais lógico a gente substituir imóveis físicos por fundos imobiliários. Tem um trabalho operacional muito menor comprando cotas de fundos. A ideia é ter o investimento imobiliário, sim, que é interessante, mas através de fundos imobiliários e diversificados em termos de ativos. Sobre o prazo de até 2030 para a Vivest não é problema. Mas para quem tem grandes volumes de imóveis, como Previ, Petros, é uma dificuldade porque na medida em que você tem um prazo certo para vender, os ativos podem se depreciar. Essa preocupação é legítima.
Outra demanda que a Abrapp está tocando é para mudar a regra que obriga os fundos a
fazerem a marcação a mercado dos ativos. Você concorda?
Isto não é uma preocupação na Vivest porque marcamos tudo a mercado. Não temos marcação na curva. Essa questão é muito controversa. O Brasil tem algumas modas e agora é discutir marcação na curva ou a mercado. Marcação à mercado significa que você está precificando o seu ativo por aquilo que o mercado paga. Me parece o critério técnico mais lógico. Eu sei que tem alguns fundos de pensão que fazem marcação na curva com o trabalho de ALM (Asset Liability Management), de compatibilização com o seu passivo. Mas são situações particulares. Tem que ter um grau enorme de certeza que aquele passivo não vai ser mexido. Agora, no momento que você tem, ou tinha até alguns meses atrás, 72 pedidos de retirada de patrocínio na Previc, mesmo sendo retiradas vazias e devolvidas, é um risco. Quando você tem transferências entre patrocinadores, que ocorre conosco felizmente recebendo recursos, no momento da transferência você vai ter que marcar tudo no mercado. Existe uma certa volatilidade do passivo, quando migra por exemplo de planos BDs (benefício definido) para planos CDs (contribuição definida). Na hora da migração tem que estar tudo no mercado. É complicada essa questão de você marcar na curva. Entendo que marcação na curva deva ser feita apenas e somente em situações muito excepcionais.
O sr. citou que a Vivest vem recebendo novos patrocinadores. É mais difícil gerir
recursos de empresas de setores e culturas tão distintas?
A fundação, antes Funcesp, sempre foi multipatrocinada. Começou há 55 anos com a CESP, depois vieram CPFL, Eletropaulo e depois outras empresas fora do setor elétrico. Temos experiência de ser multipatrocinado. As empresas do setor elétrico que eram estatais e depois foram privatizadas, foram adquiridas por controladores diversos países. Tem empresa com controle italiano, chinês, colombiano, do Canadá. São culturas diferentes. Os planos também começaram a se diversificar. Foram feitas migrações para planos CDs. A Vivest é um fundo de pessoas e que tem uma experiência muito grande de multipatrocinado e de trabalhar com empresas diferentes. Quando cheguei na Vivest, em 2018, vi que havia uma tendência de consolidação. As fundações pequenas, de porte mais reduzido, começaram a ter uma pressão de custo e de maior exigência. Antevendo isto, a Vivest que já era madura, organizada, montou uma área comercial em 2019, e fomos crescendo. Trouxemos o plano de saúde da Sabesp, os fundos da Ford, VEM (Vibra), Roche, o da própria Abrapp, e mais recentemente da Alpargatas.
Qual é a estratégia para atrair novos patrocinadores??
A gente não vai para o mercado para qualquer coisa. No plano estratégico, a gente tem um foco. Nosso foco são fundações privadas que tenham acima de R$ 300 milhões de patrimônio. A exceção é o plano da Abrapp, que a gente ter orgulho de sermos escolhidos, e o da Vibra.
Como está a distribuição entre planos CD e BD na carteira da Vivest? E como está
neste ano o desempenho?
O plano BD ainda é maior e muito grande por conta do histórico. Temos no total 25 planos. Nos planos mais antigos, planos BDs, a nossa flexibilidade de gestão é menor. Nos nossos planos RGP, antigos, tem uma herança nesses títulos indexados ao Índice Geral de Preços (IGP) que, no primeiro semestre foi ruim. Odesempenho começou a melhorar a partir de julho. A gente espera conseguir chegar até o final do ano, mais próximo da meta atuarial. Já os planos CD, que hoje cresceram bastante, não têm meta atuarial, a gente tem uma referência de rentabilidade que a gente persegue. Alguns planos CDs foram originários de migração dos planos BD. Eles receberam como herança a estrutura de investimento, a carteira de investimento dos planos BD. Aos poucos estamos mudando essas carteiras. O desempenho dessas carteiras não foi tão bom, ficou no meio do caminho. E nos planos CDs puros, nesses aí, o nosso desempenho foi bom.
Falando da carteira como um todo que a Vivest administra, qual percentual por classe de
ativos?
Hoje, as nossas carteiras estão bastante líquidas. A gente tem mais de 80% em renda fixa, incluindo caixa. Basicamente NTNB. Em ações, a gente está com um percentual muito pequeno, de 5%. A gente já teve 20% do patrimônio em ações, até 30% na minha gestão. O mesmo em relação a investimento no exterior que, em 2021, chegou a 14%, sendo 4% em ETFs, mas em 2022 vendemos quase todas as posições. Temos 5% divididos entre FII, multimercado e exterior. Quando virmos sinais de queda dos juros o primeiro que deve ganhar participação na Vivest é ações. O mercado de ações, dado o nosso tamanho, é aquele que oferece mais possibilidade de alocação.
A Vivest tem debêntures na carteira? É um mercado que interessa a vocês?
Temos, mas muito pouco. Porque o prêmio de risco não está valendo a pena. Os prêmios das empresas são muito, muito pequenos. Já foi maior. O spread não está correspondendo ao risco. A nossa análise sempre é de risco-retorno. A gente não leva em consideração só retorno, a gente leva em consideração o risco também. Hoje, as debêntures não compensam o risco, os spreads estão muito baixo. Nosso investimento em títulos privados já foi maior, nunca muito grande, mas hoje é realmente pequeno. É uma possibilidade de diversificação a carteira, mas depende dos spreads.
Vocês mesmo fazem as alocações ou contratam gestores para auxiliar no processo?
Hoje, a terceirização acontece em investimento no exterior, em fundos imobiliários e multimercado. Em ações e renda fixa fazemos tudo em casa, nós mesmo. Não temos nada contra ter gestores terceirizados. Quando houver necessidade, ampliamos.
A Vivest tem algum investimento em private equityue vem pela frente na Vivest?
Zero. Isso é histórico. Teve lá, no passado, uma coisinha, depois saímos fora, antes da explosão. O grande problema destes fundos é quando precisam sair da posição. O mercado brasileiro não tem um mercado de bolsa adequado. Na hora que eles acham que está maduro para poder realizar o investimento, cadê a porta de saída? No Brasil, estamos há três anos sem um único IPO. Como é que o Private Equity vai fazer? A vida dos Private Equity é muito difícil. Éum investimento muito interessante, de longo prazo. Mas, como eu falei, as condições de mercado aqui são difíceis. Nesse sentido, é difícil também a gente se associar.
O que vem pela frente na Vivest? Tem novos patrocinadores chegando?
Vamos seguir bem ativos no mercado. A gente seleciona muito os investimentos e novos patrocinadores, tem muito cuidado porque existe um compromisso com o conselho e com nossos patrocinadores em não adicionar riscos ao portfólio. O nosso comportamento, a nossa atuação na área comercial é bastante cautelosa. Estamos em alguns processos e esperamos que a gente tenha notícias no futuro não muito longo.
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