São 12 anos de história, mais de 700 empresas investidas e R$ 7 bilhões alocados. Os números da Spectra Investments, contudo, contam apenas uma parte da história construída com pioneirismo em alguns segmentos. A casa que, nas palavras do sócio fundador Renato Abissamra, é “investidor ultra qualificado, provavelmente o maior desta indústria no Brasil”, atua no segmento de Private Equity (PE), mas com estratégias que a diferenciam. A Spectra é referência por sua atuação no mercado secundário de Private Equity, destina parte dos recursos a um segmento pouco explorado no país, o de Search funds, e aloca recursos em outros gestores de PE além de coinvestir nos ativos destas casas.
Na entrevista à Capital Aberto, Abissamra contou um pouco sobre o modelo de atuação da Spectra, que tem nos fundos de pensão importantes investidores, e do momento vivido pelos de Private Equity, com dificuldades em captar e para sair dos ativos. “Na minha visão, se a tese de investimento de um Private Equity está ancorada em IPO, ela tem uma fragilidade”, comenta o executivo. Acompanhe:
Os Private Equitys vêem enfrentando anos difíceis, tanto para captar quanto para devolver o valor investido. Como você avalia o momento para estes fundos?
Quem é investidor de ativos privados, como nós da Spectra, tem que ter em mente o fato de ser um ambiente cíclico, arriscado e, por ser arriscado, paga melhores prêmios. É a razão pela qual faz sentido investir. O investidor que vai investir ativos privados está investindo ao longo de safras, que é o que o livro de texto recomenda. Quando o investimento está maduro e o fundo vai começar a ter devoluções, as vezes dá para acelerar, tem juro baixo, IPO, M&A, preços altos. Em outro momento, o mercado está mais morno e precisa ter paciência. Nos anos em que o juro foi baixo, o investidor botou muito dinheiro em Venture Capital porque tinha oferta, o mercado ia bem, com retornos altos. Muitos fundos perderam a disciplina e em vez de alocarem em diversificação de safras e estratégias de maneira constante, concentraram nas safras de 2021, 2022. Agora, o dinheiro vai demorar muito mais para voltar. O investidor olha e não quer mais investir em Private Equity, o que é um grande erro que o investidor pode cometer. Nesse momento em que o mercado está menos líquido, que o mercado está mais difícil de levantar capital, você investe melhor. O investidor, ao errar esse passo, perde a chance de se aproveitar desses ciclos melhores para investir.
É um paralelo com o mercado de ações, que atrai muito investimento quando já subiu bastante, e na queda todos saem?
De certa forma é mais ou menos isto, porém no mercado privado é mais difícil fazer o market timing, porque são investimentos mais longos. Você tem um pouco em Venture Capital, um pouco em Private Equity, um pouco em Special Situations, um pouco em Infraestrutura, e assim você cria um portfólio com diversas teses. Terá ativos que vão bem quanto tudo vai bem, outros que vão bem quando tudo vai mal. Em ativos estressados, por exemplo, surgem oportunidades quando tudo vai mal. Desta forma, o investidor compensa um pouco esse ciclo, tendo diversificação e constância.
Dá para vislumbrar quando poderá melhorar o cenário? Tanto em termos de captação quanto de desinvestimento dos ativos?
Os fundos não estão devolvendo dinheiro e está difícil captar. O custo de capital está muito alto, muita alocação de dinheiro que não voltou e um certo desconforto com o cenário. Nós temos 600 empresas no portfólio. Elas crescem quase, na média, 30% ao ano. É um número robusto. A economia vai bem, o mercado vai bem, só que o investidor tem visão de mundo mais opaca, desconforto com a questão fiscal e um juro enorme à frente. Isto joga contra. Por isso, há uma dificuldade muito grande para captar. Do outro lado da liquidez, para vender, a Spectra já teve 140 desinvestimentos ao longo dos últimos sete anos. E apenas 18% das minhas saídas foram via IPO. Então, a grande maioria não foi. O IPO não é o fiel dessa balança.
Mas isto por uma questão de mercado ou por uma opção da Spectra?
Na minha visão, se a tese de investimento está ancorada em IPO, ela tem uma fragilidade, porque vai ter momento que não vai ter IPO. Por isto, como investidor, gosto de ativos médios que vão ter saída via M&A, onde o mercado é mais líquido e continua líquido e está acontecendo. Em 2021, em 2022, nosso volume de desinvestimento foi muito grande. Em 2023, foi um pouco menor. Em 2024, foi menor ainda. Ele vem caindo, mas não significa que a gente não vendeu, via M&A.
Vocês já tiveram saídas via IPO?
A gente teve já muitos IPOs na carteira. Nós fomos grandes investidores da Horizon, por exemplo. A Horizon foi listada porque nós, Spectra, entramos para resolver um problema que existia entre o fundo controlador e os fundos de pensão, que eram os investidores. A gente propôs uma solução, conseguimos que a companhia fosse a IPO e com excelente resultado. Fomos o primeiro cheque na 3R, de petróleo. A companhia foi listada, a gente teve um excelente resultado. Se eu pegar as 14 transações que a gente listou, eu ganhei dinheiro em poucas e perdi na maioria. Porque quando você lista, faz o IPO, você não vende. Você tem que ficar. É o período de lock-up. Dependendo do negócio, é um lock-up mais curto ou mais longo. No Brasil, as fases positivas duram pouco, 12 meses. O IPO, em geral, é feito nos momentos mais positivos. Se você tem um lock-up de 12 meses, tenha certeza, quando você puder vender, o mercado vai estar amargo. É a realidade.
O que é o mercado de investimento privado no Brasil hoje?
Fundos que investem em empresas são a minoria. Fundos de venture capital são inúmeros. E se você apostar em uma empresa que você está investindo no Venture Capital e que a saída vai ser IPO você está muito otimista. Claro, vai acontecer, mas quantas startups brasileiras fizeram IPO? O funil é pequeno. Você tem o mercado de special situations. Quando você quebra esse mercado de private equity, você vai ter caras que estão fazendo cheques médios, e poucos fundos grandes fazendo cheques grandes no Brasil. É onde está mais parado. Você tinha grandes empresas internacionais fazendo isso, vieram e saíram.
Vocês fazem investimentos em search funds, um mercado ainda pequeno no Brasil. Como a Spectra atua?
Na Spectra, começamos a fazer, desde 2018, investimento via search funds, que tem muito potencial. É uma parte dos investimentos de private equity que fazemos. Investimos em quem vai buscar um ativo para comprar. Como o processo de procura custa dinheiro, nós patrocinamos este trabalho dos ‘searchers’. Quando ele encontrar o ativo, eu, por ser o sponsor, tenho o direito de investir, mas não a obrigação. Isto é o search funds que fazemos. A Spectra virou referência para esse mercado na América Latina. A gente tem hoje 48 search funds em que somos patrocinadores no Brasil e no exterior. A tese é esse time. Quando encontrar a empresa, ele vai trazer para nós e se aprovarmos ela ocorre e o cara (searcher) virar o CEO da companhia. É sempre compra de controle. De cada 10 empresas encontradas, umas cinco ou seis acabam virando investimento.
Esta parcela é sempre uma parte do fundo da Spectra? Tem crescido?
Este é o segmento que a gente hoje mais gosta no Private Equity. São esses caras que estão comprando empresas de R$ 50 milhões, R$ 100 milhões, e são empresas simples de tocar. São empresas que não estavam crescendo absurdamente, mas estão em mercados que podem crescer. No fundo III, a gente apoiou três search funds, investiu em uma empresa. No fundo IV e no fundo V fomos gradativamente aumentando, foi dando certo. Quando começamos víamos um mercado em alta. No mundo, havia 200 search funds, hoje mais de 800. Espanha e Estados Unidos são grandes mercados. Fomos tomando coragem e tendo mais segurança para aumentar a exposição. No fundo VI, a gente espera entre 10% e 15% de exposição ativo de search fund.
Dentro do universo dos Private Equity a Spectra é bem diferente das demais assets. Como você define a empresa?
A Spectra é sim uma gestora diferente das outras de private equity, porque nós somos investidores. Não sou o gestor do private equity. Eu posso eventualmente investir com o Pátria, com a Vinci ou outras. Um pedaço do meu capital, eu invisto nesses gestores. Porque essas casas são quem eu considero os melhores para fazer aquele tipo de estratégia. Eles originam oportunidades e parte do meu capital eu reservo para coinvestir com eles nas transações. Eu só tenho direito de coinvestir se eu for um investidor relevante. Hoje, a Spectra virou relevante, tem um cheque grande. Eu faço um cheque no fundo, tenho direito de coinvestir com a regra de remuneração já dada etc. A gente já apoiou inúmeros gestores. Starbord Asset, nós somos âncora, Treecorp, nós somos âncora, investimos na Bridge One, Cloud9 e na Ore Investments, especializada em mineração que ajudamos a fundar.
Vocês atuam também no secundário de private equity?
Esta é a terceira forma da Spectra atuar. Além dos fundos da Spectra investirem em outros fundos de PE e de coinvestirem com esses gestores nas transações, a gente também atua no mercado secundário. Nós compramos cotas de quem quer sair no meio do caminho. Viramos também referência para esse mercado. As vezes o investidor quer sair do ativo porque já aportou há um bom tempo, porque precisa do dinheiro, está sem liquidez, e entramos como compradores. Quando você olha os fundos da Spectra, eles vão ter um pouco de cada uma dessas três formas de atuação, ou estratégias, em torno de um terço para cada uma delas. Isto nos coloca na posição de um animal único no universo dos private equity. Eu olho Venture Capital, Private Equity, Special Situations, Distressed Equity, a parte de disputas judiciais, a parte de dívida não ‘performada’. A gente olha infraestrutura, a gente olha mineração, florestas. Sempre no universo de investimento nas empresas, no mercado privado. Somos um investidor ultra qualificado, grande para os parâmetros brasileiros. Provavelmente a gente é o maior investidor da indústria brasileira. Temos R$ 7 bilhões investidos. A gente teve muito sucesso e as coisas vão super bem para nós.
Como está a captação do sexto fundo da Spectra e qual o perfil do investidor da casa ?
Ainda que o mercado esteja com muita dificuldade, a gente vai conseguir captar o objetivo do nosso fundo. A estimativa era perto de R$ 2 bilhões e vamos chegar lá, mas em um tempo maior do que normalmente fazíamos. Está mais difícil do que a gente esperava. Normalmente um fundo novo captávamos o planejado em um ano, este já está além do tempo. Ele já está, boa parte, alocado. Quase 50% do fundo já está alocado porque começamos no ano passado a investir os recursos. O fundo VI deve ter uma exposição grande no mercado secundário, perto de 40%. Já investimos em um ativo de minério de fosfato, fizemos outro em concessões rodoviárias estressadas junto com a Starboard Asset, e junto com a Cloud9 investimos na ZIG, de pagamentos. A Spectra ancorou a Strata, que é um fundo de Special Situations. Em relação ao investidor, 40% são de famílias, de single-family offices, 30% são gestores de patrimônio, que alocam capital de famílias (wealth) e 20% recursos de fundo de pensão brasileiro e RPPS. A gente tem 23 fundos de pensão que investem conosco. Neste sexto fundo, pela primeira vez teremos RPPS. Serão três. Os outros 10% são investidores estrangeiros.
Os fundos de pensão têm um bolso gordo, e todos querem uma fatia. É muito difícil a relação com eles?
Eles são investidores naturais dessa classe de ativos. Porque eles podem dispor de liquidez. Faz sentido. O mais importante para o fundo de pensão no Brasil é estar em um ambiente extremamente regulado. Eles já tiveram problemas e os gerentes, os dirigentes acabaram pagando a conta. A turma começou a se proteger. Neste contexto, a palavra número um é risco. O cara vai investir, se ele estiver confortável com o risco que ele está correndo. Risco, no caso de um investimento privado, é a placa em que ele está investindo. Ele não vai fazer um aporte em um fundo que está começando. A Spectra tem R$ 7 bilhões alocados e está levantando o sexto fundo, isto conta. Cada fundo nosso tem perto de 150 ativos, é bem diversificado. Isto diminui o risco de perda institucional. São estas as razões pela qual ganhamos bastante espaço no segmento institucional. A gente oferece uma opção de menor risco, ainda que a rentabilidade da Spectra seja das maiores do mercado, perto de 30% líquidos ao ano. Quando eu vou conversar com os fundos de pensão, eu falo sobre como é que eu estou diminuindo o risco antes de falar do retorno que a gente entrega.
Dos fundos da Spectra, o que já foi desinvestido?
Os fundos mais antigos, o fundo I e II já desinvestiram boa parte. Ainda tem um pedacinho que é comum sobrar. Mas já devolveram a maior parte do capital para o investidor. O fundo III, de 2018, já devolveu o principal para o investidor. O fundo IV, de 2020, devolveu 70% do capital. Na sequência, temos o fundo V, de 2021, que já começou a devolver, mas pouco. A ideia é começar a devolver o capital a partir do terceiro ano do fundo. A maior parte das saídas é via M&A, ou venda direta para o controlador, e há casos de saídas indesejáveis, que é o write-off, perder dinheiro. A gente mede isso. Algo como 5% ou 6% dos nossos desinvestimentos foram perdas totais. Isso é parte do jogo.
Se tivesse uma palavra, a que você atribui o desempenho positivo ao longo da história da Spectra?
Eu acho que é atuar de forma diferente. Ter um olhar para nicho, como a gente mesmo gosta de dizer, ter um olhar para os nichos mais desarbitrados, os nichos de oportunidade. É isso, que é o que sempre norteou. A gente sempre tentou antecipar tendências. Começamos a investir em Venture Capital em 2014. Começamos esse negócio de Search Fund em 2018. Ninguém ouvia falar. Começamos a investir em secundário, que ninguém faz. Quase ninguém faz. Então, o que explica é esse nosso pioneirismo, é esse nosso senso de querer buscar coisas no não óbvio.
Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.
Ou assine a partir de R$ 9,90/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.
User Login!
Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.
Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais
Ja é assinante? Clique aqui