O que 10 entre 10 gestores buscam é um caminho mais curto – e sustentável – para chegar até aquele investidor com bolsos gordos, que incluem fundos de pensão, Multi Family Office, seguradoras e as RPPS (Regime Próprio de Previdência Social). Do outro lado, representantes destes segmentos demandam produtos que façam sentido para suas carteiras, normalmente bastante reguladas, como é o caso dos fundos de pensão e das seguradoras. Uma das casas especialistas em unir estes dois mundos, a Itajubá Investimentos, nasceu em 2007, e neste ano chegou ao último segmento que faltava, o das RPPS. Criada após um período sabático de seu sócio fundador, Carlos Garcia, a Itajubá tem um modelo de negócio sustentado pela exclusividade na oferta de produtos das assets parceiras. “Da mesma forma que a gente exige a exclusividade, a gente não distribui um produto semelhante ao outro.”
Na entrevista à Capital Aberto, Garcia falou sobre a elevada concentração dos fundos de pensão em títulos públicos, porém destacando que há um movimento para retorno dos aportes em ações e Private Equity. O executivo lembrou ainda a opção por começar a atender, na origem da Itajubá, os fundos de pensão, porque “os gestores tinham dificuldade em entender a demanda e a legislação deles”. Hoje, a Itajubá tem mais de 160 fundos de pensão que alocam em produtos oferecidos pela casa. Acompanhe:
A Itajubá atua desde a origem com foco na distribuição de produtos de assets parceiras para o público institucional. Como surgiu a casa?
Eu tirei um ano sabático, entre 2002 e 2003, e vi algo que me interessou sobre fundos investindo em hedge funds. Comecei a estudar um pouco mais e descobri os endowments americanos, que investiam muito em produtos alternativos e com sucesso. Os grandes private equity e hedge funds contratavam distribuidoras independentes para seus produtos. Foi quando eu descobri o mundo do distribuidor independente. A inspiração foi essa.
E o cliente valoriza o fato de a Itajubá ser uma distribuidora independente?
Sem dúvida, vimos isto lá fora, a valorização de quem pode escolher o produto que quer distribuir. Diferente de uma instituição financeira, um banco, que tem metas de venda dos produtos. É como funciona basicamente a rede bancária. O fato de você escolher o produto e não ter aquela pressão por venda era uma coisa muito valorizada lá fora e trouxemos para cá. Para isto dar certo você precisa ter, de fato, bons produtos. E esse foi o nosso primeiro desafio. Foi como montar um processo de seleção. E, de novo, nos inspiramos nos grandes endowments americanos que foram os que começaram a investir em produtos mais sofisticados. Olhamos os endowment de Harvard, MIT, Berkley e buscamos entender o processo deles, os questionários, como faziam a seleção dos produtos. Demos uma adaptada ao Brasil. Hoje, a gente tem 16 questões a observar ao todo. São 16 tópicos que cobrimos. Demos uma tropicalizada.
Quais os segmentos em que vocês distribuem os produtos e como é a seleção ?
Distribuímos em todos os segmentos institucionais. Estamos falando de fundos de pensão, seguradoras, os poucos endowments no Brasil, as famílias, seja via family offices, single ou multi. Neste ano, entramos em RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social). Nós focamos em basicamente mil clientes. A demanda de fundos de pensão e seguradora, embora tenham regulações um pouco diferentes, é muito próxima. Montamos uma grade de produtos, de fundos para serem distribuídos nesse segmento. Nós buscamos essa política de investimentos dos investidores para entender e saber quais são as decisões que pretendem tomar naquele ano. E, claro, olhamos para oportunidades que possam ser oferecidas, que façam sentido aos fundos de pensão.
Qual é o maior público de vocês, onde estão as maiores oportunidades?
O nosso maior braço é a parcela dos fundos de pensão e das famílias, eles têm mais tamanho dos que as RPPS. Os fundos têm para alocar perto de R$ 1,3 tri, mais ou menos, e as famílias têm mais do que isto, mas é difícil medir, porém as estimativas são da mesma ordem, R$ 1,5 trilhão. Em RPPS estamos falando de uns R$ 325 bilhões. Começamos pelos fundos de pensão até porque os gestores tinham dificuldade em entender a demanda e a legislação deles. É um segmento muito específico. Cada fundo de pensão tem uma situação um pouco diferente da outra. É um processo de decisão muito formal. Depois, atender as famílias foi algo natural, um mercado que cresceu muito ao longo do tempo. Só trabalhamos com famílias que já têm uma estrutura profissional de gestão dos ativos. O RPPS a gente chegou a analisar muitas vezes e não entramos, só agora.
O que mudou para que vocês agora decidissem atender também as RPPS?
Julgamos que tem uma função regulatória importante, tem um processo de certificação, que é muito bom, tem também um sistema chamado Progestão, do Ministério da Previdência, em que a RPPS se cadastra e é atribuída uma nota à qualidade da governança daquela entidade, de 1 a 4, sendo 4 o nível maior de governança. Essas mudanças me deram mais conforto para entrar no segmento. Na Itajubá, além de selecionar os gestores a gente também seleciona os clientes. O maior risco para nós, como empresa, é o reputacional. Carregamos e distribuímos muitas marcas importantes, de gestores relevantes tanto aqui quanto fora, temos que ser criteriosos na escolha dos clientes para os quais vamos fazer a venda.
Dos institucionais que a Itajubá atende, quem têm maior participação nos produtos distribuídos?
A maior parcela ainda está em fundos de pensão, seguido pelas famílias e depois o novo público, as RPPS. As seguradoras são clientes que compram menos produtos. A maior parte dos ativos é gerido por elas mesmas. É um mercado não tão grande. E os endowments também são poucos no Brasil. Neste conjunto, os fundos de pensão se destacam, embora não tenha ocorrido um crescimento tão grande nesta indústria, infelizmente. Tem um crescimento grande da previdência aberta. Mas a gente acaba atuando muito pouco ou quase nada. Temos aqui mais de 160 fundos de pensão que têm produtos conosco. É um número grande, todos os maiores fundos são clientes nossos.
Fora do universo dos títulos públicos (NTNB), o que os fundos de pensão procuram?
Na realidade, a NTNB nesse patamar é um concorrente difícil. muito difícil. No sistema fechado, você tem três tipos de planos, de Benefício Definido (BD), de Contribuição Definido (CD) e de Contribuição Variável (CV). Em termos de quantidade é quase um terço para cada, mas, em volume, os BDs são dois terços do negócio. O Brasil é um dos poucos países grandes que têm uma quantidade enorme de títulos indexados à inflação. Nos Estados Unidos é baixinho. No Brasil, perto de 35%. Se você tem uma meta atuarial de IPCA mais 5% ou 5,5%, pega uma NTNB a 6% ou 6,5%, resolveu a vida. Hoje, os fundos de pensão têm 78% em renda fixa e desse total apenas 6% em crédito privado. Você tira empréstimos a participantes e no fim sobra 18% das carteiras que é o universo onde a gente está atuando. Estamos falando do universo de BD, que é o grosso desta indústria.
Tem algum espaço para os planos BDs incrementarem e diversificarem as carteiras dentro deste contexto?
Quando você olha lá fora, tem muitos planos BD com déficit, é algo comum. Se eu tenho uma meta de 5,5%, por exemplo, e eu tenho uma NTNB a 6,5%. Então, eu estou ganhando 1% de spread, a grosso modo. Na realidade, para recuperar o déficit que estes planos têm, talvez precise que os investimentos rendam 8%. Porque, se eu render 6,5%, só vou recuperar meu déficit em um prazo muito longo. Eu preciso ter um retorno maior do que esse. Lá fora, os fundos de pensão aproveitam e correm um pouco mais de risco do que aqui. Talvez, se eu tenho que render 8%, e o 6% não é suficiente, mas eu já tenho uma abertura para o 6% (contratada via NTNB), eu vou alocar em outros ativos que têm uma chance de retorno maior do que uma NTNB. Eu tento me apropriar desse prêmio de liquidez para investir em ativos que tenham mais retorno. No Brasil isto acontece menos.
Além do fato de a Selic estar alta, o que mais explica esta concentração tão grande em papéis do governo?
Eu acho que a legislação, do jeito que ela está percebida hoje, favorece muito o investimento em ativos públicos. Em um plano BD você pode colocar um título na curva, portanto, ele não tem nenhuma volatilidade. Só retorno crescente, sem susto. E no passivo posso fazer uma média de cinco anos, do plano, também com volatilidade menor. Este conceito acaba induzindo a compra de título público. Houve um aumento grande de investimentos em título público, de quase 20 pontos percentuais nos últimos 10 anos. Era fatia de 55% investidos em renda fixa e agora foi a 79%. Quando chega essa legislação, você começa a ver um crescimento de títulos públicos. Parte dos incentivos e da alocação também é definida pela forma que você avalia títulos e os passivos.
Tem como mudar isto para favorecer uma diversificação?
Eu acho que vale a pena estudar. Porque hoje é muito claro que é uma tendência investir em título público. Nos fundos de CD e de CV há uma diversificação maior porque os títulos públicos têm que ser marcados a mercado. Mesmo assim, ainda é muito pesada a participação de título público. Tem outras questões que dificultam. Você tem um caixa que paga CDI. No mundo inteiro, o caixa é sempre uma coisa que rende menos. Isto também distorce um pouco a visão. Quando você sai de um investimento, busca imediatamente um outro investimento. Ninguém quer ficar investindo em caixa que tem um retorno baixo. No Brasil, temos uma grade de ações, que veio diminuindo bastante, e está no menor nível do histórico. A gente está vendo agora um movimento de volta, começaram os estudos sobre renda variável. A gente vê nos fundos de pensão e um pouco também em RPPS. Todo mundo falando que a Bolsa brasileira está relativamente barata. Tem oportunidades em empresas que o gestor olha e vê possibilidade de multiplicação (do valor) muito grande.
Quantos gestores parceiros vocês têm hoje na Itajubá? Quem entrou esse ano?
Para fundos de pensão a gente tem 17 gestores. Para a RPPS, que entramos neste ano, temos oito. No universo das famílias, a gente tem alguns internos e outros gestores estrangeiros. As famílias atendidas concentravam muitos investimentos fora do Brasil. E dentro dessa carteira, tem alguns gestores novos. O mais novo é a Nu Asset. São produtos de crédito e renda fixa. São produtos que se encaixam bem na demanda que a gente criou para fundos de pensão e a RPPS.
Como evitar algum tipo de conflito de interesses ao oferecer produtos de um parceiro que possa ser concorrente de outro?
Isso é uma questão relevante. Todo o nosso trabalho é feito com exclusividade. Todos os gestores que nós distribuímos, temos a exclusividade para distribuir em um determinado segmento. Nós só trabalhamos tendo exclusividade. Então, da mesma forma que a gente exige a exclusividade, a gente não distribui um produto semelhante ao outro. Temos vários gestores de ações, mas eles são muito diferentes entre si. A característica, o processo de tomada e decisão, a filosofia de investimento são muito diferentes entre si. A gente não olha para a limitação por classe de ativos, e sim pela característica do produto, a forma que os gestores procuram. O Nubank é mais high-grade, por exemplo, e UBS mais high-yield, tem produtos de crédito mais estruturado e assim por diante.
Quais os planos da Itajubá?
O que a gente está discutindo muito é a parte de fora do Brasil. Levar gestores brasileiros para fora e trazer gestores de fora para cá. A gente distribui, por exemplo, o UBS para o institucional. Mas a gente está sempre olhando novos produtos aqui. Nesse segmento a gente olha mais para as famílias porque os outros têm um percentual pouco relevante no exterior. Outra coisa relevante no universo de fundos de pensão é a parte do Multimercado, que sofreu muito no último ano e meio. Mas começaram a dar uma virada, os retornos recuperaram. É interessante porque, por mais que você tenha um histórico de momentos em que vão muito mal, precedem outros de forte ciclo de alta, as pessoas acabam comprando multimercado no ciclo mais alto. O próximo ciclo será muito favorável aos dois, multimercados e ações, agora quando vai começar este ciclo é mais difícil dizer. Tem fundos de pensão relevantes voltando a discutir investimentos em Private Equity, uma notícia boa. Mesmo o crédito privado, que cresceu muito, no universo do institucional, não houve tanta mudança. Tem muita perspectiva. Falando de fundo de pensão, se olhar toda a estrutura de crédito privado deles estamos falando de pouco menos de R$ 80 bilhões, considerando debêntures etc. Só o mercado secundário de debênture no ano passado, negociou aproximadamente R$ 450 bilhões. Ou seja, não é uma questão de liquidez.
A Itajubá deve fechar o ano com quanto distribuído entre os institucionais?
A gente está caminhando para R$ 50 bilhões em produtos distribuídos. Temos focado muito no exterior e em achar uma oportunidade para levar gestores brasileiros para fora. São os planos para agora.
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