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Da farda à toga
É inevitável relacionar o clima de 1964 com o de 2016. Mas as demandas agora são outras

Análise - normal
Fui testemunha dos fatos de março e abril de 1964 no Brasil. Mais do que isso, acompanhei os acontecimentos que antecederam aqueles episódios.

Eu era um jovem corretor de bolsa e meu primeiro filho tinha nascido em fevereiro daquele ano. A descrença no futuro do País e o clima de arruaça eram de tal ordem que cheguei a procurar o consulado do Canadá para examinar a possibilidade de emigrar.

O presidente João Goulart flertava com a balbúrdia e estimulava a desordem. Seu cunhado, Leonel Brizola, anunciava as então chamadas reformas de base — na lei ou na marra, em clara afronta às instituições. Foram tempos sombrios. Mas o poder cometeu um erro grave ao estimular a subversão da hierarquia militar, marcada pela rebelião de praças e sargentos contra oficiais superiores. Não fosse isso, talvez os quartéis não tivessem se manifestado e o governo poderia não ter sido derrubado.

Há sólidas semelhanças com a atualidade. O clima de “nós contra eles” era evidente, tanto quanto hoje. O incentivo à desordem derivava do centro do governo. Assim também nos últimos tempos os salões do Palácio do Planalto foram usados por milícias disfarçadas de movimentos sociais investindo no conflito, inclusive alertando para a hipótese do uso de armas para a defesa do mandato da atual presidente.

É impossível antever, nestes primeiros dias de abril quando escrevo, como a crise se resolverá. Mas há um ponto crucial que distancia esses dois momentos da angústia brasileira.

Em março de 1964, o aparato militar significava uma reserva de poder, e a intervenção era demanda nítida da sociedade civil. Nos dias que correm, após quase 30 anos de democracia, tal hipótese soaria como delírio inimaginável, dissociado da realidade (tanto que foi percebido como resíduo quase inaudível nas recentes manifestações em oposição ao governo).

O eixo de solução das contendas políticas deslocou-se das fardas para as togas, da intervenção militar para as decisões nos tribunais. E, tanto quanto o Legislativo, o Poder Judiciário não costuma virar as costas à opinião pública.

O País espera, com a respiração presa, a palavra insofismável da Justiça, derradeira defensora da ordem, das leis e da Constituição.


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